Ala A
A artista canadense radicada nos EUA, Karen Ostrom, nos apresenta neste espaço fotografias, instalações ciclorâmicas, vídeos e trilhas sonoras que integram uma série de trabalhos de um projeto em desenvolvimento, no qual, a artista cria uma certa atmosfera combinada a um jogo visual complexo, que exige uma apreciação cuidadosa por parte do espectador.
Como nos tableaux vivants, interpretando todas as personagens, trabalhando com várias linguagens artísticas, Ostrom, há mais de vinte anos reencena cenas que fazem parte do cotidiano, como recurso para dar prosseguimento a uma vila de pescadores fictícia, inspirada na história da sua família e na migração dos escandinavos para a costa noroeste do Canadá.
Na verdade, a vila de pescadores é um pretexto para lançar as suas ideias que vão se transformando em metáforas, analogias e diálogos poéticos que se evidenciam na grande aventura que compõe o seu processo criativo.
Ao entrarmos nas salas contíguas desta ala, vislumbramos um conjunto de obras que propõe um contraponto entre o histórico e o contemporâneo, seja caminhando por entre uma versão do “três de maio de 1808” de Goya, ou noutra, em um cenário mortal dos anos de 1920; seja, avistando um incêndio florestal e o estrondo do movimento dos cavalos em fuga desordenada ou a delicadeza das flores se movendo na dança das rendas, que surgem tecendo canções.
Literalmente, dentro da obra, nos deparamos na desigualdade de forças, expostas na cena dos fuzilamentos e ouvimos outra vez os tiros na montanha do Príncipe Pío. Em pleno século XXI o pavor ainda transparece. Fantasiamos. E a rede de pesca imaginária e a renda de bilros de flores se movem magicamente.
Premiada com uma bolsa de estudos para o Instituto Sacatar – Residência Artística Internacional na ilha de Itaparica –, Karen Ostrom, dotada de uma inclinação multimídia, lança mão de peças teatrais, desenhos, animações e outras narrativas para abrir reflexões sobre assuntos prementes no nosso tempo: o empoderamento das denúncias ou a desconstrução de modelos estabelecidos como padrão, sejam eles de natureza ambiental, questões de gênero ou discriminação racial.
Maristela Ribeiro
Artista Visual e Curadora da Mostra